7 de abril de 2010

Dia perfeiito

"Se eu não podia ter o Murilo, Júlia era o que de mais próximo havia. E vice-versa. Ela esteve acostumada, a vida toda, a ter o Murilo a sua disposição. Agora, o homem sumia o dia inteiro. Júlia tinha vício de Murilo: e satisfazia comigo. Perguntava da nossa vida, queria ajudar, precisávamos de alguma coisa?, como estávamos de dinheiro? e, também, perguntava da minha vida, e queria saber sempre mais.

Não adianta que a Júlia eu não consegui destrinchar. Um parasita, se alimentando do nosso casamento, isso ela não era. Sua relação conosco era simbiótica. Se fosse uma parasita, talvez eu gostasse mais dela. Teria pena. Mas a necessidade dela o Murilo também tinha: ele se injetava nela e ela se injetava nele. Se picavam quase toda noite: ela ligava, ou senão ele. E isso me ulcerava por dentro. Em noite de sexo negado, eu odiava Júlia mais do que tudo. Odiava chegar no meu marido com dengo, odiava ser repelida com amor em nome do cansaço, mas isso dava pra agüentar. Duro era, logo depois, ele passar meia hora no telefone com outra mulher. Não tem lógica, eu sei, e por outro lado, cheio de lógica está, mas na minha cabeça, se ele não tinha energia pra mim, não devia ter pra ela também. Júlia me lembrava minha avó grudenta, só que pior: porque a avó grudava em mim e Júlia grudava no meu marido. E enquanto eu tentava me livrar da velha, o Murilo se grudava de volta. E batia pena porque, às vezes, na loja, Júlia comentava que eu tinha sorte, que eu ia ver o Murilo de noite e ela, no máximo, ia falar com ele no telefone. E eu pensava: posso dizer pra ela aparecer lá, não posso? Mas nunca gostei de ser hipócrita.

Ela tentava me dar a impressão de que, durante o dia, o Murilo era tão fora do alcance dela quanto do meu. Mas não. Júlia tinha o horário mais livre e uma imaginação malandra: dispensou aviões e subiu o morro, foi direto ao fornecedor. Aparecia sempre na universidade. Naquela época, quando não estava trabalhando, estava ou na loja comigo ou na universidade com Murilo. Sabia o número das salas, o horário das aulas, até a mesa onde ele comia. Deve ter aprendido muito de medicina, porque assistiu a várias aulas junto com o Murilo, só pra sentar do lado dele e conversar. E os almoços. No começo, ele tentava expulsar Júlia, assim como fazia comigo quando eu me chegava nele de noite. Mas tinha receio de Júlia sofrer uma crise de abstinência caso passasse uma tarde sem fumar seu baseado de Murilo. Júlia, vulnerável e quebradiça, se jogava sobre Murilo de alma inteira e ele espalmava os pés no chão, dobrava os joelhos, trincava os dentes e aceitava aquele peso, deixa cair que eu agüento.

E eu? Murilo achava que me conhecia bem demais, ficou confiante: nunca olhou dentro da carapaça. Viu a carapaça e achou que aquilo é que era, achou que já estava tão fundo dentro de mim quanto alguém poderia estar. Mas o fundo é sempre mais embaixo, nem eu sei onde, e lá o Murilo nunca se aventurou. Casou com a rocha, se satisfez com a rocha e uma rocha era o que esperava que eu fosse.

Aos poucos, se institucionalizou o almoço: todo dia comiam juntos, se olhavam juntos, se amavam do jeito lá deles. E, logo depois, Murilo ia pra aula e Júlia vinha pra loja, chorar suas misérias. Não vejo mais o Murilo, quem tem sorte é você, Carla!, blá blá blá, mas nenhum dos dois cachorros nunca me disse que almoçavam juntos dia sim, dia também.

Eu não desconfiei porque nem todos esses almoços serviam pra despontar o vício de Murilo que Júlia tinha. Eu, que me achava sua clínica de reabilitação, era na verdade sua fornecedora clandestina: ela vinha me ver e fungava cada carreirinha de Murilo que pudesse encontrar. E eu fazia o mesmo, porque um gambá cheira o outro e eu também não sou lá muito diversa. Ela me sugava o presente, e eu, o passado. Júlia sabia tudo sobre o Murilo, cresceram juntos, nunca não se conheceram. Um era a constante da vida do outro. Júlia era tão constante que me fazia sentir a variável e isso me deixava tonta, eu precisava ir ao banheiro depois: eu imaginava Júlia, amanhã, fazendo a mesma coisa com a segunda esposa dele, indo visitar, contando histórias do passado e sugando o futuro. E eu pensava: o juramento foi comigo, a mulher dele sou eu."


Mulher de um Homem só! Livroo Oteemoo'
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Hojee o diia COMPLETAMENTE INESPLICAVEL!
Agradecimentos aa:

http://RhayssaSantos qee esteve cmg em todos os momentos.
http://kekeinha q esteve cmg zuando hoje.
http://Tabua e http://carne lalala
http://Biscoitoo quee me fez tão bem hoje :B [SemCoragem'
http://Diogo qee ta sendo mt especial (L)


Amanha eu posto CONCERTEZA

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